Há um jogo de poder entre manufatura e varejo. As empresas querem vender seus produtos com determinados preços para as lojas e redes, mas não sabem exatamente como eles performam nas prateleiras; do outro lado, os pontos de venda querem adquiri-los por preços menores, lutando para que seu estoque não fique lotado de mercadoria que corre o risco de estragar, representando perda de dinheiro. Para um ganhar, o outro tem que perder.
Esse cenário vem mudando drasticamente, para melhor, graças à Inteligência Artificial. Com o uso da tecnologia nos pontos de venda, todos os elos dessa cadeia têm mais informação detalhada, que lhes permite gerenciar melhor a demanda, o estoque e a venda de produtos diversos, fazendo com que todos ganhem – até mesmo o consumidor final, que passa a encontrar suas marcas preferidas com mais frequência nas prateleiras e adquire produtos de melhor qualidade.
Quem vem se destacando nessa revolução digital é a Neogrid, empresa que utiliza Inteligência Artificial em suas soluções tecnológicas com o objetivo de unir as necessidades do varejo e da manufatura. “Nós pensamos que, com a evolução da tecnologia, as regras de negócio poderiam ser mudadas”, conta o CEO da Neogrid, Miguel Abuhab.
As duas ferramentas criadas pela Neogrid utilizam tecnologias de Inteligência Artificial e outras soluções do Azure, a Nuvem da Microsoft. A primeira delas é o SRI (Small Retailer Insights), um software instalado nas impressoras dos pontos de venda que coleta o cupom fiscal no momento em que ele é emitido. “Só que a impressão não é um dado estruturado.
Temos que fazer um processo de conversão”, como explica o engenheiro de software da Neogrid, George Bittencourt. Para isso, foi criada a segunda ferramenta, o Tuig (Token Understanding for Invoice Generation). Com essa ferramenta é possível converter, em tempo real, a imagem do cupom fiscal em dados estruturados – a AI da Microsoft aprende a extrair cada informação listada nas linhas do cupom fiscal, como por exemplo a descrição dos itens vendidos, valores unitários, quantidades, etc.
Todo mundo ganha
Uma vez obtidas, as informações captadas pelo SRI ou pelos demais formatos de captura da Neogrid, permitem fazer análises nas quais todos só têm a ganhar. Tanto o varejo quanto a indústria descobrem, por exemplo, quantos itens precisam ser repostos nos estoques, com qual frequência essa reposição precisa ser feita, quais marcas vendem mais ou menos em determinada região, quais produtos são sempre comprados em conjunto para que as lojas os mantenham próximos nas gôndolas e até quais são os horários em que determinados itens são mais comprados para que os distribuidores garantam que as prateleiras estejam abastecidas com eles momentos antes.
A Neogrid oferece esse serviço de coleta e análise de dados de varejo para diversas indústrias em inúmeras partes do mundo. Na Holanda, por exemplo, o mercado fashion utiliza seus serviços, enquanto nos Estados Unidos captamos informações de mais de 80 mil farmácias. No Brasil, a presença é maciça em supermercados (dados de mais de 40 mil lojas são computados pela Neogrid) e, em 2019, o ramo da construção civil passa a ser analisado pela sua IA através da parceria com o grupo Juntos Somos Mais, o maior programa de fidelidade do setor. Japão, Inglaterra e México também são países onde a Neogrid está presente.
“Não os enxergamos como um cliente: ela é um parceiro para nós”, conta o cientista de dados da Microsoft Brasil, Renan Vilas Novas, anunciando que, além de utilizar os algoritmos da Neogrid para avaliar as vendas de seus produtos, a multinacional de tecnologia incorporará os serviços de análise de dados da empresa em um de seus produtos, o Dynamics 365. “Vemos um potencial muito grande de começar a integrar os algoritmos, os insights que a Neogrid tem hoje em dia dentro dele. Essa parceria está dando tantos resultados que estamos levando para toda a América Latina”, conta Renan.